quarta-feira, 17 de maio de 2006

O poder discursivo da meleca

Ela ainda tá lá. Lá no banheiro masculino do Pavilhão João Calmon, da UnB.

Uma meleca apertada contra a parede e arrastada alguns centímetros em diagonal, na parede (limpinha) que sustenta o mictório. Impressa ali enquanto o mané tirava a água do joelho.

Não é a primeira, nem será a última.

Símbolo da liberdade digital de expressão, de se poder meter o dedo onde bem entende.

Aquela meleca ali me dizia muita coisa.
Muito mais do que todas aquelas palavras pichadas nas portas do banheiro.
Era o discurso concretamente redigido do indíviduo que queria te dizer:

"Faço isso não por molecagem, mas por que posso. E você não pode fazer nada, só vai ficar aí olhando, achando que pode mudar o mundo. E você também é tão nojento e desprezível como eu, só não tem coragem de assumir que nem eu, seu covarde! Morra frustrado, mané."


Foi isso o que a meleca me disse.


Bleargh. Que nojo dessa sociedade, onde uma meleca se faz veículo de um triste e real discurso.

4 comentários:

  1. Bleargh, que nojo do banheiro masculino.

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  2. Camarada Davi,
    Pior do que uma sociedade que transforma uma meleca num veículo de discurso é uma sociedade que faz com que você perceba numa meleca um objeto de análise de discurso. Haja pragmática...
    Parabéns pelo texto.

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  3. Herr Chuikov, as melecas se reproduzem! Semana passada vi uma no banheiro do Anísio Teixeira!

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  4. Hahahahaha...

    Continuando a idéia do amigo acima, pior do que uma sociedade que transforma uma meleca em veículo de discurso, é um discurso de meleca em um veículo. Ou quase isso.

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