sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Falsas atribuições de autoria, parte XVIII

Atentado a bomba contra a sede da Civilização Brasileira, em 14 de outubro de 1968


A famigerada máxima “Quem não lê, mal fala, mal ouve, mal vê” é frequentemente atribuída, Internet afora, a Monteiro Lobato, Malba Tahan e Alfredo Maia. Alguns livros também fazem essas referências, todas elas equivocadas, e é bem provável que a qualquer momento inventem mais outras atribuições de autoria. Além de essas menções serem levianas ou até desonestas, contribuem para deixar no esquecimento um peculiar fato histórico envolvendo tal frase.

Ela é, na verdade, o slogan adotado* pelo editor Ênio Silveira (1925-1996) para a Civilização Brasileira, editora que ele dirigiu por décadas. Durante os anos 60, na fachada da sede da editora, localizada na rua Sete de Setembro (Rio de Janeiro, capital), ele mandou fixar um grande cartaz com esses dizeres, consagrados como o lema da casa.

Em 1968, dois meses antes do AI-5, um atentado a bomba na sede — que publicava autores de esquerda e servia como ponto de encontro de vários intelectuais — destruiu parcialmente essa fachada (foto), tendo o cartaz resistido ao 
terror cultural, expressão criada na época pelo escritor Tristão de Athayde e que chegou até mesmo a ser usada pelo então ditador Castelo Branco ao questionar seu chefe de gabinete militar, Ernesto Geisel, sobre a necessidade de (uma nova) prisão do grande editor, já então detido várias vezes durante seu governo.

Moral da história: Quem não consulta referências, mal sabe, mal cita, mal lê.



* Nenhuma das fontes consultadas afirma literalmente que tal lema tenha sido criado por ele mesmo, embora isso pareça possível, já que se tornou originalmente conhecida como slogan de sua editora.