quarta-feira, 3 de agosto de 2005

Mesquinharia servida à mesa

12:50h. Refeitório do Comando da Aeronáutica. Em meio à refeição, percebi - não tinha como não perceber - a algumas mesas de distância, a intensa conversação de um grupo de algumas "colegas" de trabalho, que só naquele horário tinham a oportunidade de, em panelinha, encontrar-se pra atualizar as fofocas do dia.

Não, não estou sendo maledicente em afirmar que tratavam de fofocas: não tive nenhuma dificuldade em perceber que falavam [muito] mal dos outros, pois pela altura do papo entendia-se que queriam mesmo era que todo mundo ou pelo menos alguém ouvisse. Mesmo que não fosse possível ouvir, estava nítido no olhar de sarcasmo e deboche de algumas delas o frenesi anal que experimentavam em se ocupar da vida alheia.

E atenção para o prato do dia: a vida dos outros!

Pegue um talher e vá espetando: "...tadinho, olha lá a esperança dele"... "pelo menos ela é bonita... mas ela é noiva, etc... " imagino que em algum momento até falaram [muito] mal de mim, que me encontrava no campo visual delas, tornando-me provavelmente alvo fácil e certeiro de suas intrigas inúteis - mas que faziam a felicidade fugaz de cada uma ali presente. Se não sabiam de nada, inventavam. Se já tivessem inventado, aumentavam. E dá-lhe fermento.

Após considerável troca de informações valiosíssimas - não devem ter levado muito tempo com a boca cheia - levantam-se e se despedem, visivelmente saciadas: o prazer em escarnecer do próximo acabou de lhes permitir um orgasmo dificilmente atingido com seus respectivos parceiros.

Parafraseando Woody Allen, como posso acreditar em Deus se na semana passada encontrei criaturas que jamais poderiam ter sido concebidas em sua [suposta] infinita misericórdia?