Nota do autor Olavo de Carvalho em seu livro “A Filosofia e seu Inverso” (2012). |
A leitura da nota acima mostra que o autor — por
desinformação ou tendenciosidade? — comete o mesmíssimo erro de várias
pessoas que associam a instituição do Novo Acordo Ortográfico ao governo do Lula/PT como se
isso fosse uma iniciativa da tal esquerda que se encontrava então no poder.
O novo Acordo
Ortográfico foi um tratado elaborado e discutido entre 1986 e 1990 pelo
dicionarista Antônio Houaiss (por parte do Brasil) e representantes de outros
países de língua portuguesa. Isso nem mesmo era algo original ou inovador porque copiava, em larga medida, o acordo ortográfico de 1945 (firmado
entre Brasil e Portugal, mas seguido apenas pelos lusos porque os brasileiros se sentiram prejudicados e voltaram a usar o acordo anterior), no qual já eram propostas a abolição do acento agudo nos ditongos abertos das paroxítonas e a extinção do trema, mudanças que
já estavam em prática em Portugal desde a década de 1940. Como se vê,
trata-se duma demanda histórica internacional, que atravessou gerações e que
não foi, de modo algum, iniciativa mirabolante dum governo esquerdista em pleno
século XXI.
É ÓBVIO que os interesses e as motivações por trás do novo Acordo podem e devem, sim, ser
questionados. Direito de contestar e criticar isso é algo que o Olavo de Carvalho tem — e
aliás com muita razão —, porque foi um tratado porcamente aprovado pelos
especialistas e que não passou por nenhuma revisão por aqueles que se
encontravam à frente do negócio (a ABL de Evanildo Bechara). Nem os dicionaristas,
gramáticos, linguistas e professores de português concordam com o modo como os
articuladores atuais entregaram o texto do Acordo, que precisava duma série de
correções, atualizações e adaptações. Entretanto, seu conteúdo não é obra de
políticos e dirigentes (nem foi por eles discutido!), mas de academicistas; o
decreto deu força de lei ao Acordo, mas NÃO o planejou e nem o elaborou. Era algo que já se encontrava redigido há 20 anos, na época em que Lula disputava uma eleição
presidencial pela primeira vez.
Querer jogar a
responsabilidade disso no governo em 2009, que só endossou e aprovou por meio
de decreto o que qualquer outro governo teria feito naquele momento, é pura
forçação de barra, para não dizer estupidez. O que faz Olavo de Carvalho acreditar que, estando Serra, Alckmin ou qualquer outro líder com formação escolar superior no lugar de Lula, o decreto não teria sido assinado do
mesmíssimo jeito? Que justificativa, opinião ou embasamento técnico um outro presidente, no lugar do Lula, encontraria para barrar, em 2009, este acordo
internacional e não assinar o decreto? Se os próprios acadêmicos que propuseram a decretação do acordo não
apresentaram restrições e impedimentos, o que faz Olavo raciocinar que qualquer outro
político que não fosse o Lula, de qualquer partido ou orientação, apresentaria?
Olavo de
Carvalho está atirando no alvo errado. Se existe alguém a
quem deve ser imputada a responsabilidade por um acordo ter sido instituído da forma como está,
este alguém é a Academia Brasileira de Letras, representada pelo gramático
Evanildo Bechara, que assumiu a "cria nça" deixada por Houaiss.
Hoje um olavete apareceu por aqui e me chamou de "leviano". Enfurecido pelo que escrevi acima sobre seu mestre, disse que o que escrevo é "feio" e "burro" demais. Tudo ia muito bem... até ele me pedir para assistir a um vídeo do Olavo de Carvalho! Aí é já é abuso.
ResponderExcluir