Se alguma coisa pode dar errado, dará. E mais: dará errado da pior maneira, no pior momento e de modo que cause o maior dano possível.
Edward Aloysius Murphy Jr. (1918–1990)
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Lançamento da sonda Mariner I (1962) |
Quando a “corrida espacial” entre os Estados Unidos e a União Soviética começou, em fins da década de 50, o Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa (JPL) apresentou planos grandiosos para uma série de sofisticadas sondas espaciais, a serem denominadas Mariner. O lançamento dessas grandes sondas, contudo, dependia de um novo foguete mais poderoso, o Atlas-Centauro, cujo projeto mostrou-se problemático. O JPL, finalmente, teve de satisfazer-se com um desenho menos sofisticado, batizado, de início, Mariner Ranger, ou apenas Mariner R, que seria lançado pelos propulsores Atlas-Agena B, então disponíveis. O programa Mariner, mesmo assim, custou mais de US$ 500 milhões.
A Mariner I deveria ser a primeira espaçonave interplanetária destinada a explorar os planetas mais próximos, ou seja, Vênus, Mercúrio e Marte. A sonda não tripulada tinha asas com células para captação de energia durante a jornada e dispunha de instrumentos para estudar Vênus, o planeta almejado. Ela foi lançada em 22 de julho de 1962. Cerca de quatro minutos depois do disparo, contudo, o lançador executou uma manobra não programada e começou a desviar-se do curso. O oficial da Nasa incumbido da segurança tinha menos de um minuto para decidir entre interromper o lançamento (e destruir milhões de dólares em equipamento) ou permitir o prosseguimento do voo (e correr o risco de uma sonda espacial errante cair em área populosa ou em rota de navegação). A decisão foi de abortar a missão.
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Deu no NY Times... |
“Não se sabe por quê, faltou um hífen no programa de orientação do computador de bordo, o que levou instruções falhas a comandar o foguete, desviando-o para a esquerda e para baixo... Basta dizer que a primeira tentativa de voo interplanetário dos Estados Unidos fracassou pela falta de um hífen.”
O veículo custou mais de US$ 80 milhões, o que levou o escritor de ficção científica Arthur C. Clarke (1917–2008) a referir-se ao erro como “o hífen mais dispendioso da história”.
(WEIR, Stephen. A lei de Murphy e o hífen perdido. In: ______. As piores decisões da história. Rio de Janeiro: Sextante, 2014, p. 190-193)
Observação: A verdade é que a Nasa, o escritor Arthur Clarke e o New York Times cometeram um equívoco histórico (e que perdura até hoje, tanto que foi inconscientemente reproduzido pelo autor do livro cujo trecho é supracitado) na descrição do sinal ausente como “hífen”; trata-se de um traço sobrescrito, mais conhecido como overline ou superscript bar, usada na fórmula matemática em questão:
Tal equívoco se consagrou e até as mais diversas e recentes publicações sobre o caso falam em “hífen”. Em suma: um erro em cima de outro erro, deixando o errado ainda mais errado.