Sherlock Holmes e o crime de lesa-ortografia
— Foi um erro furtivo, Watson. Ninguém viu. Nem o autor, nem o revisor, nem o diagramador, nem o editor, nem seu assistente, nem os leitores. Passou batido por todos. Se ao menos alguém o tivesse identificado antes da publicação, teria evitado a consumação desse terrível crime de lesa-ortografia.
— E o que foi feito a respeito até agora, Holmes? Já temos algum suspeito?
— A Scotland Yard tem concentrado todas as buscas a um fugitivo: o estagiário que esteve vadiando pela editora durante toda a composição da obra. Ele sumiu logo após a publicação e seu paradeiro continua ignorado.
— Mas presumir que a culpa seja sempre do estagiário nesses casos é uma solução um tanto preguiçosa e oportunista, não?
— Obviamente, Watson, e deixa de lado a questão mais intrigante: o poder de invisibilidade de um erro durante todo o processo de editoração. Como ele conseguiu se manter ali, maquiado e imperceptível, durante todo esse tempo? Trata-se de um mistério que atravessa séculos de história tipográfica e editorial, permanecendo gloriosamente indecifrável.
["Um estudo do erro", Arthur Conan Doyle, 1887, p. 171]
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