![]() |
"The Intellectuals at la Rotonde", Tullio Garbari (1916) |
(...)
Chomsky:
— Vem cá, Skinner, por que uma criança, mesmo ouvindo os adultos dizerem "fiz" e "sei", ainda assim diz "fazi" e "sabo", seguindo naturalmente os paradigmas regulares dos verbos da 2ª conjugação, terminados em -er, quando todos os reforços seriam, nesse caso, favoráveis à primeira forma, irregular ?...
Skinner:
— Isso não contradiz o que eu penso. A princípio, ela pode até dizer "fazi" e "sabo", mas tal condição não se perdura por muito tempo, até porque, justamente graças aos reforços, essa mesma criança deixa de falar "fazi" e "sabo" e passa a falar "fiz" e "sei"... por que será, hein Noam?
Vygotsky:
— Chomsky, não acredito que isso aconteça tão "naturalmente" assim. O que ocorre é que, após essa criança se apropriar da forma cultural dos adultos de usar paradigmas de verbos regulares (bato, bati; vendo, vendi), assim que precisar usar os irregulares saber e fazer, ela os conjugará "sabo" e "fazi", como resultado da generalização dos paradigmas que ela assimilou culturalmente... Isso também serve pra você, Skinner: a criança deixa de falar "sabo" e "fazi" e passa a conjugar por meio do paradigma irregular devido ao mesmo motivo, já que, aos poucos, vai se apropriando da forma cultural devidamente consolidada entre os adultos.
(...)
Assinale abaixo quem será o vencedor do debate e, como tal, irá embora sem precisar pagar a conta:
a) Diretor Skinner, que convencerá todos na base dos reforços;
b) Mister Chomsky, que conseguirá fazer todos dialogarem numa mesma língua ideal e de acordo com uma gramática universal;
c) Kamarada Vygotsky, que mesmo com um princípio de tuberculose não abriu mão de tomar uma boa vodka russa com os demais kamaradas no bar;
d) Monsieur Piaget, que também tá bem ali no canto da mesa fumando um cachimbo só esperando sua vez de falar;
e) Outro teórico que faltou ser convidado mas que fará das idéias anteriores meros itens dicionarizados.